Conto - O Cavaleiro e a Serpente - Alzira Castilho

O Cavaleiro e a Serpente


Existe um provérbio que diz: "A 'oposição' do homem
instruído é melhor do que o 'apoio' do tolo".
Eu, Salim Abdali, atesto a exatidão disso tanto nos
níveis elevados da existência como nos mais baixos.
Tal constatação se faz mais evidente na tradição dos
Sábios, que vieram a difundir a história do Cavaleiro
e a Serpente.
Um cavaleiro viu uma serpente venenosa insinuar-se
garganta adentro de um homem adormecido. O cavaleiro
 sabia que se deixasse aquele homem dormir certamente
o veneno o mataria. Assim sendo, sacudiu com força o
dorminhoco até despertá-lo. Sem perda de tempo, obrigou-o
a ir a um lugar onde havia maças apodrecidas jogadas no solo
e forçou-o a comê-las.
Depois fez com que bebesse grandes goles d'água de um
riacho.
Enquanto isso, o homem tentava escapar, gritando:
- Que fiz eu, inimigo da humanidade, para que abuse de mim
desta maneira!?
Finalmente, quando já estava exausto e caia a noite, o homem
largou-se no chão e ali vomitou as maças, a água e a serpente.
Quando viu o que havia expelido, compreendeu o ocorrido e
pediu perdão ao cavaleiro.
Essa é a nossa condição. ao ler estas linhas, não tome história
por alegoria por história.
Os que são dotados de conhecimento têm responsabilidade.
Aqueles que carecem de conhecimento nada possuem além de
conjecturas.
O homem que fora salvo disse:
- Se você tivesse me dito o que ocorria, eu teria aceito seu
tratamento de bom grado.
- Se eu lhe contasse, você não teria acreditado.
Ou teria ficado paralisado de terror. Ou teria fugido.
Ou teria mergulhado de novo no sono, buscando esquecer.
E então não teria havido tempo de salvá-lo.